Nosso James Dean tem gosto de Pepsi.
Por Manuela Martini Colla



Quem viveu a década de 80 sabe do que estou falando. Sim, o clássico da Sessão da tarde, ‘Curtindo a vida adoidado’ (John Hughes, 1986), do tempo que a vida ainda tinha gosto de bala de hortelã – com o perdão do clichê. O que me fez lembrar desse filme foi uma lista publicada na última edição da Rolling Stone, definindo o que é cool e o que não é.
A revista listou uma série de coisas que sempre serão cool, entre as quais: garotas de batom vermelho, Keith Richards, o
monstro do lago Ness, alho, quem curte Madonna, ovos fritos, pandas, T. Rex. Eu lembrei imediatamente: quer pessoa mais cool que Ferris Bueller?
Na minha visão, ‘Curtindo a vida adoidado’ criou toda uma geração de frustrados, e é aqui onde eu me encaixo. Eu lembro que não entendia como aquele cara conseguia fazer tantas coisas em um só dia e ainda por cima se safar da bronca dos pais. Ferris é o cara. Ele ainda tem um amigo chamado Cameron, travado, e uma namorada que continua bonita nesses tempos de über models, Sloane. Provavelmente ela tinha as botas certas e o quase-topete adequado para o cara mais popular do colégio.
Mas não é só isso. O filme tem uma série de estereótipos adolescentes: fingir que está doente para faltar a aula é um deles. A irmã TPM constante, o diretor do colégio que vive perseguindo Ferris, o carro ‘proibido’ que acaba sendo roubado para dar umas voltas. Está tudo ali. Quer dizer, são os anos 80 de Farrah Fawcett, então obviamente não há espaço para drogas.
Mas, em compensação, há a filosofia ‘carpe diem’ por todos os lados. Frases como ‘a vida passa muito rápido’ e ‘porque eu ia perder um dia lindo desses trancado naquela escola?’ mostram bem isso. Aproveitar o dia. Basicamente, é o que Ferris faz o filme todo, e o faz com maestria. A cena dele cantando ‘Twist and Shout’ é simplesmente uma das minhas favoritas de todos os tempos – até porque concordo com Ferris quando ele diz que John Lennon era o máximo.
Mas essa é a fórmula de filmes sobre adolescentes, certo? ‘Juventude Transviada’ já tinha o cara cool (James Dean), com uma bela namorada e um fiel amigo. Definitivamente, a revolta em Curtindo a vida adoidado não é com os valores da vida americana, como em Juventude Transviada. Ferris não quer saber sobre o socialismo europeu. Ele quer um carro ao invés de um computador. O problema aqui é outro: o que fazer com a vida? O fim do segundo grau pode realmente significar um problema quando se tem é 17 anos. Os dilemas de nossa geração são muito menos políticos, mas não menos preocupantes – ah, se a vida viesse com manual de instrução...
Mas eu sou suspeita: cresci na década de 80, tentando tirar sonzinhos de tosse de um teclado e roubei o carro do meu pai quando tinha 15 anos. De qualquer maneira, lembre-se: na dúvida, sempre tenha uma bola de beisebol embaixo da cama.

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