Markus Karlus e Kevin Rodgers- Os cérebros por trás do mito
Por seu repórter investigativo: Odair Leme


Quando um astuto pesquisador do século XXIII for pesquisar os grandes nomes da História da Música ele terá alguns problemas. Terá todas as informações que quiser sobre a surdez de Beethoven, a loucura de Mozart e a impotência de Brahms; mas sobre o Golden? Só declarações do tipo "Quem são esses caras?" ou que eles não são música eletrônica ou o Caetano (quem?) bla-bla-blazando qualquer bobagem.


Se comprar as balelas que sairam até agora, esse hipotético pesquisador achará que tratam-se apenas de uma dupla de pequenos gênios gozadores que cospem na moda e nas pessoas responsáveis por ela …


Eu digo: HA HA…


Markus Karlus e Kevin Rodgers não são as beldades universitárias por quem se fazem passar. Na verdade, os dois são uma dupla de produtores, hitmakers convictos, malignos, maquiavélicos e nefastos, que acumulam sucessos desde a época das marchinhas ufanistas do regime militar. Eles, que agora posam de adolescentes intelectuais alternativos, já tiveram disputas pelo topo do hit-parade com gênios da MPB brasileira do Brasil como Sullivan e Massadas ou As Frenéticas.


Agora, você pode se perguntar… De onde surgiu a inspiração para a armação Golden Shower? Simples, acompanhe o raciocínio:


Os dois estavam encerrando as contas de sua última armação, a cantora melô-pop-romântico-meio-safada Roberta Richards. O primeiro disco dela ("Não Conte Pra Mamãe") tinha posto a galera pra dançar! A grana tinha entrado forte, mas o fracasso do segundo ("Adolescente Solteira Procura…") mostrou que o feeling artístico dos dois (assim como suas pesquisas de mercado) estavam ultrapassados e que o máximo que Roberta conseguiria hoje em dia seria mais um especial com vídeo da Sexy. Agora, refletindo sobre os conceitos artísticos mostrados em seus livros contábeis, surgiu a dúvida… O que fazer a seguir?


Analisando o que tinha de disponível nas rádios, chegaram a uma primeira pergunta: o brasileiro é tarado (como todo mundo sabe) mas será que ninguém percebe que esse troço de bandas com bundas já deu no saco? Então resolveram arriscar um pouco, levar o fetiche um passo a frente no pop brasileiro fazendo uma banda cuja temática única fosse mais ousada. Optaram pelo golden shower por uma razão prática: até onde eles puderam averiguar, todo mundo mija, ou seja, qualquer criança poderia imitar quando visse na TV!


Definido o conceito básico, começaram a estudar os detalhes ínfimos do projeto: estilo musical, visual, das letras e, por último, quem seriam os integrantes da banda.


Os primeiros rascunhos apontavam para o caminho do Pagode e o nome "Só No Amarelo" foi entusiasticamente aceito. Já tinham até alguns títulos de hits na agulha como "Seu Banheiro ou o Meu" e "Lençóis Dourados". Batizaram os futuros integrantes com nomes como Tiquinho, Mussarela, Girassol e Boca de Ouro. No fim, a falta de desafio acabou falando mais alto. Perceberam que não estariam fazendo nada tão novo assim, e abortaram o projeto. Para não dizer que foi tudo abandonado, consideraram bom o caminho do golden shower, e o mantiveram.


A segunda tentativa era uma mistura de grunge com punk e teatrinhos para assustar crianças. O nome da banda era Piss Me Off. Perceberam que iam ter muitos problemas com organizadores de shows conservadores e desencanaram.


Por fim, pensaram na possibilidade de um revival do Heavy Metal de arena e todos seus clichês épicos. Os músicos se vestiriam de guerreiros gregos. Os instrumentos seriam dourados. O nome TINHA que ser The Golden Age.


Foi nessa hora que tiveram o grande estalo. Um revival? E ligado a golden shower? Como ninguém ainda tinha pensado nisso? Era algo lógico, pois a partir do momento que tudo que se faz em música hoje em dia é uma bosta, nada mais justo que fazer um revival que fale sobre mijo! Coisa de gênio! Sentiram que o rock pauleira era pouco e que o verdadeiro filão seria homenagear toda uma era, todo um gênero…


OS ANOS 80!!!


Agora só faltava um último detalhe. Eles eram produtores, mas desta vez não queriam arranjar proto-músicos para colherem os frutos. Aquela era com certeza a melhor de suas idéias, a que os colocaria no topo do panteão econômico-musical. Mas, continuando apenas como produtores, eles novamente seriam desconhecidos do grande público. E era esse o problema… Eles não queriam mais ser os homens atrás dos botões, mas sim os na frente das câmeras! Não queriam mais agendar entrevistas, mas sim respondê-las! Não queriam mais pagar para passar a noite com mulheres, mas sim groupies implorando por uma noite de prazer molhado!


Foi o gancho final, a razão que motivou Kevin Rodgers e Markus Carlus a serem eles mesmos o Golden Shower, essa banda que posa de desencanada mas que tem sua concepção musical todas as mais horrendas razões mercantilistas. Não se engane, por trás dos sonzinhos bonitinhos e piadinhas, eles são o demo. Tanto que estão chegando lá…
Ah sim, e por quê eles não mostram os rostos nunca? Bem, chamemos isso de um último laivo profissional dentro de toda essa insanidade. Um dos dois, momentos antes da apresentação no Lado B da MTV que os iniciou no estrelato, percebeu que seus rostos não eram os mais indicados para o fenômeno pop que planejavam ser, e improvisaram uma saída honrosa: cobrir suas faces com meias de nylon(outro fetiche explorado pelos marqueteiros) .


Além disso tudo, ainda sobre uma alegria, o legado que o Golden Shower deixará… Afinal, tenho certeza que quando o supra-citado pesquisador, acostumado com os chatos joguinhos de computador estilo Doom em realidade virtual, irá se apaixonar pelos gráficos do Atari! Perceberá toda a arte por trás daquele cubismo videogâmico e irá contar para os amigos!
Resultado? Além de já estar na história, o Golden Shower levou o nome do Atari para a história o que, com certeza, já lhes valerá uma canonização!

 

outros colaboradores